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AMAR o que é afinal?

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"Gravidez
Não sei que nome dar à linha que vai crescendo dia a dia no teu corpo, como um horizonte convexo. É uma curva perfeita. Só sei isso. Uma curva perfeita. Abóboda celeste vista de fora."

José Mário Silva em
Efeito Borboleta e outras histórias
Não sei como dizer-te que a minha voz te procurae a atenção começa a florir, quando sucede a noiteesplêndida e casta.Não sei o que dizer, especialmente quando os teus pulsosse enchem de um brilho preciosoe tu estremeces como um pensamento chegado. Quando iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocadopelo pressentir de um tempo distante,e na terra crescida os homens entoam a vindima,– eu não sei como dizer-te que cem ideias, dentro de mim, te procuram.Quando as folhas da melancolia arrefecem com astrosao lado do espaçoo coração é uma semente inventadaem seu ascético escuro e em seu turbilhão de um dia,tu arrebatas os caminhos da minha solidãocomo se toda a minha casa ardesse pousada na noite.– E então não sei o que dizerjunto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.Quando as crianças acordam nas luas espantadasque às vezes caem no meio do tempo,– não sei como dizer-te que a pureza,dentro de mim, te procura.Durante a primavera inteira aprendoos trevos, a água sobrenatural, o leve e abstractocorrer do espaço –e penso que vou dizer algo cheio de razão,mas quando a sombra vai cair da curva sôfregados meus lábios, sinto que me faltaum girassol, uma pedra, uma ave – qualquercoisa extraordinária.Porque não sei como dizer-te sem milagresque dentro de mim é o sol, o fruto,a criança, a água, o deus, o leite, a mãe,o amor,que te procuram.

de herberto helder
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Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.

É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe

valendo a pena e o preço terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.

Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.
por Carlos Drummond de Andrade
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Começam sempre com palavras doces e são-me dirigidas. Guardo-as numa gaveta com cheiro a jasmim. Deixo que o tempo passe para que as palavras fiquem. São cartas de amor...

Quem as não tem?

As mais antigas têm anos e a letra ainda por formar diz-me que quem as escreveu ainda não tinha definido a caligrafia. Não têm rasuras mas escritas a azul parecem ter, nas palavras, um profundo sentimento de saudade, de alegria, de carinho. Vêm em papel pautado, tamanho A4, folhas arrancadas de um caderno escolar. Dias interrompidos para escrever. Talvez entre duas aulas, talvez enquanto fala o professor mais chato. E dão a volta para o outro lado da folha, terminam quase na última linha como se muito mais houvesse para dizer.

Outras há escritas mais tarde, pela mesma pessoa. As mesmas folhas A4 mas agora com o logotipo da empresa. Tarde com intervalo para escrever tantas linhas que me caíram no coração. E me fizeram sorrir. São promessas, perguntas, são desejos, vontades. Cartas de Amor escritas de forma apaixonada e verdadeira. Porque ninguém escreve sem sentir o que está a fazer.

E as mais recentes têm novo remetente. Adulto, pausado, consciente. São cartas de Amor sem a paixão de outros tempos, sem o gozo da juventude quase infantil. Mas trazem a responsabilidade e o carinho de quem cresce a gostar do outro. São poemas e linhas certas, escritas com a alma, com a mão segura, sem hesitações. Fico a pensar que gosto de lê-las, a todas, de recordá-las, de saboreá-las.

São tão poucas as cartas de amor dos nossos dias. O sms e o messenger vieram substituir essa caligrafia apurada, cuidada, letra a letra para fazer sentido num pedaço de papel dobrado em quatro. Sem precisar de envelope... Como podem as gerações de agora não ter uma carta de amor? Como guardam memórias e recordações? Deixam as mensagens escritas por alguns dias, mas logo a máquina pede mais espaço e são apagadas as palavras de amor. E vêm com abreviaturas, obrigam a adivinhar, perde-se tempo na procura da palavra, perdendo-se-lhe o sentido.

As Cartas de Amor não devem morrer. Um destes dias vou escrever uma. Para que fique para sempre.

de Samantha
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Haverá amor como o primeiro?

A questão é pertinente e muitas vezes penso nela. Pergunto-me se é possível amar duas vezes, se é possível amar como da primeira vez. Pergunto-me se depois da primeira vez é mesmo amor ou se é apenas um gostar forte, uma paixão, um comodismo, uma vontade.

O primeiro amor deixa marcas para sempre. Se for mesmo amor. Eu não acredito em relações de meses, paixões assolapadas que acabam como começam, uniões ocasionais com sentimentos à mistura. Acredito em relações fortes, em sentimentos que não controlamos, no amor crú que nos impede de falar, de raciocinar, de saber estar. Não misturo o amor com paixão. O amor segue-se à paixão e cola-se à pele sem dela querer sair. E quando o queremos arrancar ele lá está... eventualmente, para sempre.

O segredo será aprender a viver com ele, com o primeiro amor que se nos cola ao corpo? Ou o novo amor, a nova relação, a nova união transforma esse primeiro sentimento numa sensação mais serena, mais capaz, melhor? Não sei...

O primeiro amor é infantil, ingénuo, colhe-nos a alma e circuncreve-nos os reflexos. O pensamento retrai-se e fica apenas um batimento acelerado, desprotegido, tão bom que chega a saciar. Quando acaba é arrasador, destrutivo, decepcionante. Mas acabará, de facto? Ou será que vivemos para sempre com ele? Poderá alguém livrar-nos de um primeiro amor?

Crescemos com ele, habituamo-nos a ele, vestimos-lhe a cor. O primeiro amor é assim como uma borboleta que nos poisa no braço e ficamos quietos com medo que fuja, não queremos assustá-la... Então, ela bate as asas devagar e prende-nos a respiração. Observamos-lhe a beleza e fixamos nela os nossos olhos para nunca mais a esquecermos. O primeiro amor voa quando mexemos o braço. Às vezes volta. Mas muitas vezes segue para longe e deixa-nos apenas o cheiro, a memória, o vazio.

Talvez não possamos viver agarrados a ele. Talvez não seja bom para nós tê-lo como exemplo para amores futuros, relações presentes. Talvez o primeiro amor seja apenas uma experiência para outros, uma forma de sabermos o que não podemos repetir, uma maneira de aprendermos a lidar connosco próprios. Ou talvez não seja nada disto. Talvez o primeiro amor seja eterno, talvez seja a base para tudo o resto, talvez se sente à nossa direita observando os amores que então passam...

Haverá amor como o primeiro? Eu não sei...

( Encontrei este texto tantas vezes publicado na internet, que não consigo encontrar o próprio autor. Desta feita o melhor, é ficar mesmo pelo anónimo).

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"O amor é o espaço e o tempo tornados sensíveis ao coração". Marcel Proust
"Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que ja ninguem se apaixona de verdade. Ja ninguem quer viver um amor impossivel. Ja ninguem aceita amar sem uma razao. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questao de pratica.Porque da jeito. Porque sao colegas e estao ali mesmo ao lado.Porque se dao bem e nao se chateiam muito. Porque faz sentido.Porque e mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calcas e das contas da lavandaria.Hoje em dia as pessoas fazem contratos pre-nupciais, discutem tudo de antemao, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "dialogo".O amor passou a ser passivel de ser combinado. Os amantes tornaram-se socios.Reunem-se, discutem problemas, tomam decisoes. O amor transformou-se numa variante psico-socio-bio-ecologica de camaradagem. A paixao, que devia ser desmedida, e na medida do possivel. O amor tornou-se uma questao pratica. O resultado e que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade,ficam "praticamente" apaixonadas.Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estupido, do amor doente, do unico amor verdadeiro que ha, estou farto de conversas,farto de compreensoes, farto de conveniencias de servico. Nunca vi namorados tao embrutecidos, tao cobardes e tao comodistas como os de hoje.incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia,sao uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "ta tudo bem,tudo bem", tomadores de bicas, alcancadores de compromissos, bananoides,borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Ja ninguem se apaixona? Ja ninguem aceita a paixao pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilibrio, o medo, o custo, o amor, a doenca que e como um cancro a comer-nos o coracao e que nos canta no peito ao mesmo tempo?O amor e uma coisa, a vida e outra. O amor nao e para ser uma ajudinha. Não e para ser o alivio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "da la um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporanea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, ja nao se ve romance, gritaria, maluquice, facada, abracos, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade.Amor e amor.E essa beleza.E esse perigo.O nosso amor nao e para nos compreender, nao e para nos ajudar, nao e para nos fazer felizes. Tanto pode como nao pode.Tanto faz. E uma questao de azar. O nosso amor nao e para nos amar, para nos levar de repente ao ceu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.O amor e uma coisa, a vida e outra. A vida as vezes mata o amor. A"vidinha" e uma convivencia assassina. O amor puro nao e um meio, nao e um fim, nao e um principio, nao e um destino. O amor puro e uma condicao. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor nao se percebe. Nao da para perceber. O amor e um estado de quem se sente. O amor e a nossa alma. E a nossa alma a desatar. A desatar a correr atras do que>nao sabe, nao apanha, nao larga, nao compreende. O amor e uma verdade. E por isso que a ilusao e necessaria.A ilusao e bonita, nao faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor e uma coisa, a vida e outra. A realidade pode matar, o amor e mais bonito que a vida. A vida que se lixe.Num momento, num olhar, o coracao apanha-se para sempre. Ama-se alguem.Por muito longe, por muito dificil, por muito desesperadamente. O coracao guarda que se nos escapa das maos. E durante o dia e durante a vida, quando nao esta la quem se ama, nao e ela que nos acompanha - e o nosso amor, oamor que se lhe tem.Nao e para perceber. E sinal de amor puro nao se perceber, amar e nao se ter, querer e nao guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Nao se podeceder.Nao se pode resistir.A vida e uma coisa, o amor e outra. A vida dura a vida inteira, o amor nao. So um mundo de amor pode durar a vida inteira. E vale-la tambem."O homem esmerou-se.E com toda a razao!
(by Miguel Esteves Cardoso in Expresso)
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Das certezas que não tenho
Nem lhes encontro o tamanho
Nem lhes descubro o sentido
Deste povo que procuro
Só vejo o lado mais escuro
De um destino já vencido

Não sei da minha saudade
A mentira é mais verdade
Devo ou não culpar alguém
Quem me ajuda a encontrar
O lado bom de gostar
Para que eu me ria também

Tento encontrar o caminho
No rubro de um velho vinho
No meu último jasmim
Que é feito deste meu povo
Que me embalou ainda novo
Mas que não gosta de mim

do meu querido amigo e colega Carlos Leitão
Agora que sabes mais de mim
Não sei se por acaso ou por vontade
Palnta mais um cravo no jardim
E chora uma vez mais esta saudade

Odeia-me á vontade, trai lembranças
Deixei o nosso amor, mas não acabo
Sou isto a revolta de crianças
Nascidas do meu Deus e do Diabo

Sou povo angustiado e madrugada
Sou corpo masoquista em solidão
Sou sempre a nossa história inacabada
Sou o sangue por chegar ao coração

Ainda que procures no fim
Que esteja á minha frente sem saber
Agora que não sabes mais de mim
Talvez ainda esteja por nascer

do meu querido amigo e colega Carlos Leitão